segunda-feira, 20 de setembro de 2010

BRINQUEDOTECA, LUDICIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE

Autores: Fabiana de Albuquerque (graduanda em matemática - UFPR),
Gabriela Schneider (graduanda em pedagogia - UFPR),
Orientação: Prof. Tania T. Bruns Zimer
Universidade Federal do Paraná
Modalidade: Comunicação Científica
Resumo:
A aprendizagem da matemática por muitas vezes não é atrativa aos olhos
das crianças, porém se trabalharmos segundo a linguagem, a percepção do
mundo próprio da criança, ou seja através do lúdico, então teremos uma
aprendizagem mais natural e satisfatória a estes, quebrando a idéia da escola
como instituição que visa apenas uma formação metódica e pautada em
metodologias conservadoras. Visando um processo de ensino/aprendizagem
onde a criança seja o elemento principal, onde seu desenvolvimento seja
percebido sob os diversos campos, físico, social, psicológico, propõe-se o
trabalho educacional de conteúdos curriculares, principalmente a matemática,
através da ludicidade, educação ambiental e do espaço de uma brinquedoteca.
Isso se dá, perante a percepção da ludicidade como elemento de encantamento
para as crianças mas, também facilitador na assimilação de conceitos estudados
em sala, da necessidade de se conscientizar ecologicamente os mais pequenos,
para que estes se tornem cidadãos comprometidos com a realidade em que
vivem. E por fim, da utilização de um espaço – a brinquedoteca- onde a
criatividade, a criação e a espontaneidade são afloradas.
Palavras chaves: matemática, ludicidade, educação ambiental, brinquedoteca.
Corpo do texto:
Utilizamos a matemática direta e indiretamente no nosso cotidiano desde a
infância, é preciso entender que a matemática não é um conjunto de fatos a
serem memorizados, mas sim uma variedade de idéias numéricas, geométricas,
estatísticas, que proporcionam a ação de perceber a realidade de acordo com o
contexto, experiência e linguagem natural. Com isto, queremos dizer que é
possível e normal à criança, progressivamente, se familiarizar com a própria
Matemática, através de repetidos contatos com fatos matemáticos comuns do
seu cotidiano, estruturando pouco a pouco seus conhecimentos.
À primeira vista pode parecer que não há conteúdo matemático a ensinar
e aprender na Educação Infantil, mas a partir da observação das atividades de
sala de aula verifica-se que, de maneira gradativa, o conhecimento matemático é
construído pelas crianças nesta fase.
Para facilitar a aprendizagem de conteúdos matemáticos para as crianças
é que se estruturou este projeto, propondo o uso da ludicidade, da educação
ambiental e de uma brinquedoteca, como elementos que possibilitam um
processo de ensino diversificado e inovador. Para tanto, toma-se a ludicidade
como eixo pedagógico, que possibilita tornar o aprendizado de matemática uma
atividade prazerosa, e a educação ambiental como eixo de apoio neste ensino se
apresentando como um meio para a utilização de materiais que façam parte do
cotidiano da criança e que sejam de fácil acesso a elas, favorecendo também na
conscientização da importância da preservação ambiental. Por fim, a
brinquedoteca aparece como o ambiente que acolhe esses dois eixos, tornandose
um espaço de criatividade, recreação, aprendizagem e também possibilitando
o estudo e a reflexão em torno dos resultados obtidos a partir de uma prática
condizente com esta proposta.
As atividades lúdicas na Educação Infantil, podem, inicialmente, parecer
tratar-se de uma ação bastante encantadora, pois se referem a brincar com
crianças, uma atividade inerente a elas. No entanto, quando se aplica uma
intencionalidade didático-metodológica a esse brincar, a ação passa a ser
desafiadora para aquele - o docente - que deve planejar a atividade lúdica e
implementá-la na escola de modo a manter o encantamento dos alunos. E, esse
desafio, às vezes, pode tornar-se o elemento dificultador de uma prática
condizente aos referenciais teóricos da ludicidade.
Com o desenvolvimento do projeto "Brinquedoteca, ludicidade e educação
ambiental no ensino de matemática para crianças”, no ano de 2004 percebeu-se
haver uma lacuna entre as crenças, que os professores dizem ter sobre a
ludicidade na Educação Infantil e as práticas pedagógicas desenvolvidas nas
salas de aula, o que motiva a continuidade deste trabalho para o ano de 2005,
abrangendo também o ensino fundamental.
Acreditando que novas tendências e metodologias podem contribuir no
ensino de matemática, buscou-se entrelaçar a Educação Ambiental e o Lúdico
com elaboração de atividades visando à formação de conceitos curriculares de
Matemática a serem trabalhados com as crianças do jardim II e III, em parceria
com Centro de Educação Infantil “Pipa Encantada” (CEI) do Hospital de Clinicas
da UFPR, e ainda, o despertar nos educadores destas crianças, e nos demais, a
conscientização ecológica e a valorização do brincar como complemento
significativo nas práticas escolares.
Visa também a formação de professores em duas vertentes, inicial (alunos
da UFPR - cursos de Pedagogia, Ciências Biológicas e Matemática) e continuada
(docentes em serviço, atuantes nos jardins II e III), para os quais se propõe o
desenvolvimento do trabalho de modo colaborativo e reflexivo, enfocando-se,
tanto os conteúdos curriculares específicos das turmas, quanto os conteúdos
pedagógicos, necessários à formação docente.
Este projeto iniciou no ano de 2003, enfocando o trabalho exclusivamente
com as crianças, percebendo a necessidade de despertar nos professores o
trabalho contínuo com a ludicidade, no ano de 2004 optou-se por trabalhar
paralelamente em duas etapas, com as crianças e com os professores.
A equipe que compõe este projeto reúne-se semanalmente com o intuito
de planejar o desenvolvimento das ações, sempre em concomitância com as
pedagogas e professoras do CEI e com as crianças. Antes da elaboração das
atividades práticas tem-se o cuidado de consultar o corpo docente sobre quais
conteúdos foram estudados nas disciplinas envolvidas, com o intuito de reforçalos.
Os estudantes do projeto se dividem em dois grupos, um que realiza
atividades na brinquedoteca com as crianças, o outro que busca a formação
continuada dos educadores, através do repasse de toda a metodologia de
trabalho aplicado com as crianças, por meio de questionários, conversas,
dinâmicas etc.
Esses dois enfoques: trabalho com crianças e com professores, deve-se a
percepção de que muitos docentes, pedagogos e graduandos têm dificuldade de
aceitar e elaborar atividades lúdicas que ajudem na compreensão de conteúdos,
especialmente os matemáticos, que em geral se apresentam como os mais
complexos perante as crianças. Também se relega a segundo plano, em geral, o
despertar da consciência ecológica no ambiente da escola. Isso se deve, muitas
vezes, a uma formação que não engloba tais aspectos, ou ao alto grau de
comprometimento e dedicação que tal prática exige.
A trajetória desse trabalho considera algumas metas traçadas para o
desenvolvimento do projeto, as quais são tomadas como diretrizes para as
análises. A saber:
· enfatizar os conteúdos curriculares em que os docentes afirmam haver
maior dificuldade de aprendizagem pelas crianças;
· desenvolver atividades que apresentem desafios para as crianças;
· utilizar recursos diferenciados na criação de atividades lúdicas (construção
de jogos, literatura infantil, recortes e colagens, coleta de materiais
recicláveis);
· despertar nos educadores à valorização do brincar como complemento
significativo nas práticas escolares;
· confirmar que a ludicidade tem um papel importante na formação da
criança;
· apresentar a Brinquedoteca como um ambiente facilitador da
aprendizagem, bem como propor momentos agradáveis que propiciem um
melhor desenvolvimento lógico matemático e consciência ecológica;
· consolidar mudanças ocorridas no contexto escolar a partir do traçado de
uma nova perspectiva na formação e atuação dos professores;
· reestruturar os modelos de formação docente valorizando a contemplação
da ludicidade e da educação ambiental em seu programa;
· desenvolver a importância do trabalho em grupo (alunos/alunos;
alunos/professores), valorizando as singularidades, as aptidões de cada
um, despertando a criatividade e concentração/atenção;
· trabalhar preconceitos presentes no ambiente escolar enfatizando o
respeito mútuo entre todos.
Através do que foi realizado constatou-se que trabalhar conteúdos
curriculares através da ludicidade é válido para o processo de
ensino/aprendizagem, uma vez que as crianças durante a brincadeira têm uma
maior facilidade de concentração e atenção, sendo que através disto torna-se
mais fácil a internalização do conteúdo, visto que a atividade é um prazer e não
uma obrigação. Algumas constatações foram feitas, referentes a estudos e
resultados alcançados através das atividades realizadas:
· Importância de distinguir o brincar na escola do brincar em outras
ocasiões, não desprezando e nem enfatizando um ou outro;
· Necessidade da continuidade das atividades iniciadas na Brinquedoteca
no ambiente escolar;
· Interesse pela adoção da ludicidade por parte das docentes em sua
prática diária;
· Participação efetiva e assídua das crianças nas atividades, demonstrando
um interesse e uma alegria muito grande quando foram a brinquedoteca
e/ou realizaram atividades do projeto;
· Comportamento diferente, de algumas crianças, do relatado pelos
professores, por exemplo, um aluno considerado disperso na escola
participou ativamente da atividade realizada na brinquedoteca.
· Cooperação entre as crianças;
· A matemática foi melhor compreendida e se aproximou mais do cotidiano
das crianças;
· Percepção da importância da preservação ambiental pelas crianças;
· Percepção por parte dos professores quanto às vantagens, facilidades e a
importância de se utilizar materiais recicláveis, reaproveitáveis, no
cotidiano escolar.
Durante a realização do projeto, procurou-se trabalhar os conteúdos
anteriormente estudados em sala de aula pelos professores e que as crianças
ainda apresentavam dificuldades, sendo assim, a brincadeira e o jogo se tornam
elementos reforçadores e que possibilitam uma melhor compreensão e
internalização do que é estudado.
As atividades enfocam vários conteúdos e se realizam de diversas
maneiras, tendo em vista o nível que se encontra o público com o qual a atividade
é desenvolvida. Abaixo se expõem alguns e como foram modelados:
- Formas geométricas. As crianças transpuseram do bidimensional para o
tridimensional um palhaço, confeccionado com formas geométricas, utilizando
blocos lógicos. Antes da montagem do palhaço (que foi feito em grupo) com
essas formas questionou-se quais as formas que as crianças dispunham para
brincarem, quais as diferenças entre elas e onde podemos percebe-las no dia a
dia. Após a montagem com os blocos lógicos, individualmente, as crianças
desenharam o palhaço contornando – o .
- Relação número e quantidade. Divididas em grupos as crianças deveriam
derrubar o maior número de pinos possíveis, após jogar a bola, e contar os pinos
derrubados marcavam a pontuação. Esses pinos foram confeccionados com
garrafas descartáveis, e a bola com meias finas rasgadas. No início da
brincadeira cada criança recebeu uma forma geométrica com cores diferentes
(um crachá), esta forma também estava representada em um painel, o jogador
deveria marcar o número de pinos derrubados em cada jogada na coluna
correspondente ao seu crachá. A marcação dos pontos poderia ser feita através
do número e/ou da quantidade. Em outra atividade os educandos tiveram a
oportunidade de confeccionar papel reciclado, esta atividade foi desenvolvida na
escola. Após a confecção do papel, os educandos criaram jogos, destacando-se o
jogo da memória, onde uma carta representava o número e a outra a quantidade.
- Seqüência numérica. Esta atividade casou o conteúdo de matemática
(seqüência numérica, até 09) e conteúdo de ciências (animais e habitats), e foi
realizada em duas etapas. Na primeira etapa os educandos utilizaram o material
reciclado para a construção de animais. Foi ressaltado o aproveitamento de
“sucatas” na construção de modelos. Na segunda etapa os alunos pulavam a
amarelinha, o grupo de crianças deveria passar por todas as casas, sendo
necessário à percepção da seqüência numérica. No céu da amarelinha havia os
habitats dos animais, na última jogada de cada criança, esta deveria levar seu
animal até o habitat. A atividade buscava também trabalhar a coordenação
motora. No final da atividade, foi feita uma exposição para os alunos de
questões, como a diferença de animais domésticos e animais selvagens, com a
exposição de ilustrações de animais nos seus habitats, utilizando um Atlas
ilustrado (CABRERA & YEPES, 1960).
- Dezena. Esta atividade também foi realizada em duas etapas, na primeira
foi trabalhado o conceito dos sentidos, com a manipulação de material reciclável
recolhido pelos educandos. Na segunda etapa enfatizou-se o conteúdo de
matemática. A atividade ocorreu da seguinte forma: primeiramente realizada na
instituição, os alunos decoraram latas de alumínio, rolos de papel e potes de tinta
utilizando diferentes materiais e com diferentes texturas e durante a atividade
observou-se cada tipo de material, qual a sensação que cada um proporcionava.
Na segunda etapa, os alunos foram até a brinquedoteca e brincaram com o “Jogo
dos 10”, que trabalhou a dezena, a representação numérica e o trabalho em
grupo. Para tanto, foram utilizados os elementos decorados pelos alunos na
primeira etapa da atividade. As crianças deveriam sortear um número (1 a 30) e
organiza-los em grupos de no máximo 10, com o intuito de representar que cada
grupo de 10 elementos refere-se a uma dezena.
Com a caminhada realizada neste projeto, é possível afirmar que desde a
Educação Infantil podemos e devemos trabalhar o ensino dos conteúdos
curriculares, através da organização de sala de aula, resolução de problemas
próprios do cotidiano das crianças e, de maneira especial, com jogos e
brincadeiras infantis, tendo ciência de que a aprendizagem é um processo que
estrutura gradativamente o conhecimento, não sendo algo imediato. Percebe-se
também que a intermediação de atividades por meio da brinquedoteca possibilita
à criança a diversão e aprendizagem tão importante no seu desenvolvimento.
Através da realização das brincadeiras/jogos, do estudo e aprofundamento
de referenciais teóricos acerca da importância do lúdico, da educação ambiental,
do despontar de um ambiente como a brinquedoteca e dos resultados positivos
percebidos, alcançados e relatados pela instituição onde o projeto desenvolve-se,
vê-se a necessidade de compartilhar, difundir tal experiência como forma de
cumprir o papel enquanto estudantes e pessoas comprometidas, preocupadas
com a educação, especialmente no âmbito escolar.
A caminha é lenta e recente perante a complexidade do ensino e das suas
diversas variáveis, possibilidades e complexidades existentes nos conteúdos
curriculares das diversas disciplinas e especialmente a matemática. Contudo,
estes primeiros passos têm sido fundamentais para a continuidade desta
pesquisa e sua ampliação neste ano de 2005.


RA: A6271C-7
Simone Aparecida Tepper Moreira

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