quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Afetividade e aprendizagem

Ana Pereira de Souza

Penso a importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem, defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas. Ressalto aqui a importância então de uma interação de qualidade, interação afetiva. É a partir do contato com o meio social a que vive que a criança aprende e cria. A importância do outro está também não só na construção do conhecimento, mas na contribuição para a formação da criança como ser social.
O processo de internalização envolve antes de tudo o nível social para depois internalizar. Dizemos que é primeiro interpsicológico (entre pessoas) e depois intrapsicológico, (no interior da criança) o que podemos concluir que o papel do outro é sem dúvidas de grande importância no processo de aprendizagem, pois ocupa o primeiro momento da internalização. Assim entendo que o conhecer envolve três elementos: O sujeito, o objeto a ser conhecido e o mediador. Mediador tem função especial no ato de conhecer, pois conduz todo o processo e ainda tem sua participação significativa, pois dizemos que a essência do objeto do conhecimento é construída socialmente. Entendo então que é depois do processo de interação, através da mediação que o objeto ganha significado e sentido.
Vendo esse processo na sala de aula, fica claro que a as experiências é que trazem sentido afetivo e implicará na qualidade do objeto internalizado. Percebemos então a importância da afetividade na aprendizagem.
A criança começa seus aprendizados com a família, estabelecendo vínculos, uma comunicação emocional, que sustenta o começo do processo de aprendizagem.
Mas a interação por si só, não é o bastante. Somos seres socioconstrutivistas e aprendemos com o outro, no contato, na troca de experiências que permitem nosso desenvolvimento mental... Mas também no contato afetivo.  “Não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar” (Fernandez, 2992, 52).
A aprendizagem é um processo afetivo construído por vínculos. Observamos a aprendizagem escolar e percebemos que o ambiente se constrói a partir do envolvimento com amigos, professores, gestores ... Há uma base afetiva no processo de aprendizagem. Ora, somos também seres emocionais, pois precisamos da proximidade do outro, comunicação emocional, para o nosso desenvolvimento. A criança precisa do outro para se desenvolver. Costumamos usar sempre aqui o exemplo da criança que se criada entre animais, terá algumas de suas características.
A emoção é um vinculo que faz parte do ser humano, primeiro e mais importante desenvolvido na criança que desde cedo chama para si a mãe.
As crianças percebem e sentem a importância da afetividade em sala de aula. O contato afetivo trabalha as boas relações, incluindo respeito, trabalho em equipe, reconhecimento do outro o que sem dúvidas é muito importante para estabelecer boas e firmes relações, que implica na aprendizagem significativa.
A afetividade pode ser identificada de várias formas, sendo a postura uma das formas mais visíveis, presentes e muito importantes na educação infantil. A aproximação física, um afagar de cabelos, um segurar na mão, um abraço, um beijo, para a criança é muito importante e colabora no seu desenvolvimento, desempenho e para a construção da sua autonomia, pois transmite segurança, tranqüilidade entre outros sentimentos que combatem a ansiedade, o medo, a insegurança, presentes e merecedores de atenção especial dentro do processo de ensino aprendizagem. A criança precisa dessa aproximação que interfere de forma positiva num melhor desempenho, a troca de sentimentos é possível pela aproximação. Não há afetividade sem contato, não necessariamente o contato citado acima, postura, mas o essencial contato com o outro, conhecer. Conteúdos verbais também são identificações de afetividade, muito presentes em sala de aula e em todas as séries. Diferente do contato postural que trazem mais significado para as crianças menores, o conteúdo verbal é importante em qualquer fase do indivíduo e traz suas contribuições notáveis na aprendizagem. O conteúdo verbal é identificado como palavras de ânimo, incentivo, apoio, reconhecimento, na tentativa de encorajar o aluno, envolve-lo como sujeito ativo na sua aprendizagem, que traz ao processo intrapsicológico um maior êxito.
Com essas relações bem estabelecidas a criança tem então maior autonomia e segurança para ousar, pois ela se sente segura. Diferente de um ambiente onde usamos de palavras rudes e tons elevados, um ambiente tranqüilo, acolhedor, interfere de forma positiva no desenvolvimento do indivíduo. As crianças preferem palavras doces em tons mansos e atenção, que passa o conforto e a segurança que ela precisa pra se desenvolver. Os adultos assim como as crianças, não gostam de gritos e frases rudes direcionadas a eles. Um comportamento assim gera desconforto, insegurança, medo... Sentimentos contrários à aprendizagem significativa.
A afetividade não é fórmula de sucesso para uma aprendizagem significativa. Enfrentamos milhares de outros problemas que implicam no sucesso da aprendizagem. Dentre eles podemos pensar a contextualização do ensino e a falta de planejamento pedagógico. Um abraço, um beijo, uma palavra de reforço não traz ao seu aluno o amor pelo conteúdo que ele não vê sentido. Trazer atividades que despertem a curiosidade dos alunos é uma prática aprendida com o tempo, com dedicação e com vontade. É nesse contato com o outro que nos deixamos conhecer. É a partir dessa interação que obtemos práticas.
As trocas afetivas podem ser também negativas e diante disso é necessário preparo para saber trabalhar.
É necessário que o sujeito-professor se empenhe nesse ato maravilhoso de educar que exige mais que saberes científico. “Educar é um ato de amor” Içami Itiba, 1996. Exige dedicação.
Apesar disso, temos visto que nem sempre esses vínculos são mantidos. Professores excedem seus limites e vão de uma postura afetiva para autoritária. Importante levar em consideração que essa postura pode por a perder  todo o planejamento político pedagógico. Numa postura autoritária é perdida a possibilidade de estabelecer laços de confiança e de segurança. Perdemos a oportunidade de se aproximar do outro e assim trazemos inúmeras barreiras ao desenvolvimento de uma aprendizagem significativa. O professor não consegue passar livre de interferências na vida dos seus alunos, podendo ser essas positivas ou negativas. A sala de aula é um cubo de vida, é a sociedade enquadrada. É o lugar onde a vida acontece. Lugar de encontros e desencontros, de conhecimento e reconhecimento. Lugar de produção cognoscente e reprodução social. A afetividade traz a vida para esse espaço. Essa relação é humana. A afetividade colabora na construção do sujeito e no conhecimento.



BIBLIOGRAFIA 

FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada – Abordagem Psicopedagógica Clínica Da Criança E Sua Família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

TIBA, Içami. Ensinar Aprendendo, Editora Gente, 24ª- ed., 1998.


BOCK,Ana Mercês Bahia (org.) Psicologias: Uma introdução ao estudo da psicologia, Editora Saraiva, 13ª edição, 1999.




(Comentem.. Indiquem leituras relacionadas...)



Um comentário:

  1. Estou muito feliz e orgulhosa de você.Beijos e que Deus te conduza neste caminho.

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